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2024-07-25

O que fazem as suásticas num «resort» do tempo romano?

O símbolo acarreta uma conotação que nos remete para um período de horrores do século passado. Mas as suásticas que se revelam neste mosaico traduzem antes uma associação decorativa bem pacífica. Foram aplicadas no corredor que vemos na imagem em pleno período romano, quando alguém abastado da época escolheu Santa Vitória do Ameixial (concelho de Estremoz) para erguer uma luxuosa casa, quem bem poderia ser um «resort» por aqueles tempos. Ali entre o final do século I a.C e o início do séc. IV d.C, durante a romanização da Península Ibérica 
 
TEXTO | Roberto Dores
 
   Mas vamos lá saber o que representam as suáticas colocadas no pavimento deste «villa», à boleia de André Carneiro, docente de História da Universidade de Évora. «As suásticas já existiam no mundo indigena e celta. Aqui simbolizam a rotação do sol, porque se olharmos para o sol parece que está a rodar. Trata-se de um símbolo quase de movimento,  com aqueles braços alternados, que se movem  em diferentes direcções», avança.

   Alerta ainda que, neste caso, as suásticas surgem ao lado dos tanques. «A suástica está ligada ao sol e à energia que dá vida, porque o sol é fonte de vida e de bons humores. Já o tanque representa a água. Dois elementos unidos que, no espírito romano, eram muito importantes», explica André Carneiro.

   O mosaico de que se fala traduz um corredor de passagem da «villa» edificada por alguém com ligação ao setor dos mármores. Uma casa privada de um dono com fortuna, que se abria às visitas para impressionar os amigos, exibindo um luxo ostentatório, denunciado pelos materiais que têm sido encontrados ao longo das escavaçoes arqueológicas.

   Regra geral, a casa era visitada por pessoas importantes da época romana. «Era uma elite que andava de umas casas para as outras. Quando entravam num ambiente destes tinham que ficar impressionados», diz o professor, comparando mesmo ao que hoje acontece entre as chamadas «revistas cor-de-rosa», quando alguém mostra a própria casa ao público.

   «Quanto mais impacto tivessem estas villas, mais os visitantes iam pensar que o seu dono tinha poder e influência, querendo ser seu amigo», prossegue André Carneiro, apontando como o «poder» do proprietário tem expressão em alguns lugares da casa como as zonas dos jardins, dos tanques ou das estátuas (das quais se desconhece o paradeiro). 
 
Curiosidades da campanha de escavações arqueológicas nas ruínas romanas de Santa Vitória do Ameixial explicadas às crianças do ATL de Verão

   O mosaico com as suásticas acaba por nem representar um dos principais atractivos de decoração entre este «resort», sendo apenas um dos corredores de passagem, rumo à sala de refeições. Aí sim, estava o expoente máximo para impressionar alguém, através da comida generosa e vários cenários que seriam criados. 


«Depois tinha ainda as termas que algum dia teremos que encontrar. Era onde eles estavam mais descontraídos, mais relaxados, com massagens e banhos,  estando à vontade para fazer negócios e alianças», revela.
 

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