Gastronomia

2024-05-22

Agricultura do futuro foi à escola e pôs crianças a comer cenoura roxa 

 
A que sabe esta flor? «Parece que sabe assim a alface», responde a aluna, ainda a tentar apurar melhor o paladar à medida que vai deglutindo aquela «curiosa» flor comestível entre o prato de arroz com hambúrguer de vaca criada em terra de agricultura sustentável. «Olha, é bom. Tem qualquer coisa doce. Posso provar outra?», pergunta. A segunda já foi mastigada sem receio, mas a comparação não se alterou. «Sim, o mais parecido a isto é a alface». A colega do lado, que custou mais a deixar-se convencer pela degustação, concordou. «Também não encontro nada mais parecido. Sim, talvez alface»
 
TEXTO | Roberto Dores
 
   As flores comestíveis de que se fala foram oferecidas aos alunos da Escola Básica Diogo Lopes de Sequeira (Alandroal) por David Brito, o administrador da  Terramay, o já célebre projecto de agricultura regenerativa, que alia sustentabilidade e activismo social com economia e empreendedorismo em plena freguesia do Rosário, em frente ao rio Guadiana. David Brito e o presidente da Câmara do Alandroal, João Maria Grilo, foram à escola promover junto dos mais novos o festival Soil to Soul - que decorre sábado e domingo no castelo da vila - tendo feito uma apresentação em torno das vantagens da aposta na agricultura regenerativa rumo ao futuro. 

Flores comestíveis surpreenderam jovens.

   David Brito assumiu ter ficado «pasmado» com o conhecimento que os alunos, entre os 6 e os 16 anos, têm sobre este tema. «O que me pasmou foi o conhecimento dos conceitos da sazonalidade, da rotação de culturas, da protecção do solo e dos recursos naturais. Pareceu-me que todos estavam sensibilizados para essa temática», elogiou, destacando a forma como as crianças se predispuseram a provar os vários legumes.

   A cenoura roxa, comida crua, conquistou as preferências e esgotou. Também há quem lhe chame «Maria dos sete paus». «É muito boa. Sabe melhor do que a outra e eu gosto muito de cenoura, comida só assim. A avó diz que faz os olhos bonitos», revela um dos alunos que integra um dos grupos que demonstra estar mais alertado para os inconvenientes dos «químicos e dos legumes produzidos fora de época».

Cenoura roxa ou Maria dos sete paus foi muito apreciada pelos alunos e esgotou.
 
   «Mesmo agora apareceu ali - na televisão instalada no refeitório - a imagem de uma estufa onde o agricultor tem de entrar protegido da cabeça aos pés. Aquilo não é bom», admite e David Brito confirma: «Se aquilo é perigoso para o agricultor, imaginem para nós», referiu, já depois de ter feito mais um teste às papilas gustativas dos jovens.

   Desta vez foram sementes de cebola. Avaliação? «Sabe mesmo a cebola. Ao princípio é mais intensa, mas o sabor dilui-se mais rapidamente na boca», concordam outros três alunos, que respondem assim ao conceito de agricultura regenerativa: «Se as produções forem saudáveis, as pessoas são as grandes beneficiadas com esses alimentos, porque também vão ser mais saudáveis».
 
Autarca equaciona horta na escola 
 
   Tanto o presidente da Câmara como a nutricionista do Município não se revelaram surpreendidos com a sensibilidade que os alunos demonstraram para entender as vantagens da agricultura regenerativa. O contacto, quase de berço, com a ruralidade ajuda a explicar parte do conhecimento.


Sábado e domingo o Castelo do Alandroal abre-se ao festival Soil to Soul. A agricultura do futuro vai à mesa com um rol de pratos a preços acessíveis e confeccionados por afamados chefes.

   «Têm a vivência do dia-a-dia, com os familiares», diz João Maria Grilo, reportando-se ao contacto quase diário com as quintas e hortas dos pais e avós. «Depois os jovens têm uma grande apetência para aprender. Se formos capazes de lhes ensinar as coisas certas, eles vão aprendê-las», acrescenta.

Horta escolar está em equação para juntar prática à teoria

   É nesse sentido que está em cima da mesa a possibilidade da autarquia e da escola virem a reforçar este tipo de actividades em torno do solo, natureza e produção sustentável. «É importante ir fazer chegar esta comunicação a outros momentos em algum espaço da informação cívica», enfatiza o edil, avançando que está a ser equacionada a criação de uma horta no recinto escolar com esta filosofia.

   A nutricionista do Município, Ana Sofia, explica que vários alunos já têm alguns conceitos sobre o que deve ser uma agricultura virada para a sustentabilidade também em função do que vão aprendendo nas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC). «Muitos deles já têm a experiência das próprias hortas dos avós, mas nas AEC ainda falamos de alimentação saudável, ajudados pelo Nutrikids», resume a especialista.

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